ARTIGO DE OPINIÃO: O ABANDONO DE CRIANÇAS E A FALTA DE CUIDADOS PRIMÁRIOS

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A criança é um ser que merece atenção de todos, seja ela negra, branca, castanha, amarela ou sei lá. É um hábito antigo em África, em particular em Angola, acusar o vizinho ou irmão de feiticeiro, e, é mais frequente quando os mesmos estão numa fase transitória das suas vidas “crescimento financeiro”.  Dando sequencia, as crianças e as pessoas da terceira idade são as principais vítimas, sempre que acontece algo não satisfatório, acabam sendo acusadas de feitiçaria, mas, o meu sentimento de revolta é propriamente para o meu país, Angola.

Também é bem verdade que, temos de aceitar que o espiritualismo ou feitiço é real, sem sobras de dúvidas, se existe o diabo então, é obvio que maldade faz parte do ser humano.

Na minha Angola, e seu redor, as pessoas gostam de atingir objetivos sem esforços ou mesmo sem trabalharem duro, sendo assim, o seu fracasso é sempre associado à feitiçaria, daí, começam as acusações aos filhos do irmão ou da prima, justificando que” a minha vida não vai para frente porque o filho do mano Minguito, “atenção, nome fictício para o enquadramento do artigo de opinião em causa…

Seguindo: estás a ver aquele filho de 5 anos que lhe chamam de Mbanza? está a travar o meu crescimento, está a aparecer nos meus sonhos.

Estas palavras são naturais em várias zonas no interior de Angola, que gera grandes conflitos familiares, e chegam mesmo ao ponto de a própria mãe, abandonar seu filho, e assim, leva os mesmos a deambularem nas ruas e bairros por Angola dentro, com destino para os lares onde são recebidos por pessoas que nunca viram.

A minha linha de pensamento não é sobre os lares, mas sim, sobre as crianças inocentes acusadas, que várias vezes oiço por aí, as crianças são o futuro do amanhã, mas, este futuro está dentro dos centros de acolhimento, acusado de ser ‘ mgapa’ (feiticeiros), essas acusações partem às vezes, de pessoas que durante 9 meses carregaram-na em seu ventre, com carinho e vários sonhos, passados meses esta mesma princesa ou príncipe passam de lindos para ndonki.

Pergunto, como é que uma criança pode ser feiticeira e ao mesmo tempo futuro de uma Angola nova? Não faz sentido continuarmos com este comportamento que nos leva ao declínio, neste abandono e sem cuidados primários, acabamos atrasando o desenvolvimento da criança e fazer com que perca sua infância, o amor da família, bem como a oportunidade de conhecer um lápis, resultado, estamos a criar uma sociedade atrasada, a formar muitos delinquentes e jovens revoltados, porque pouquíssimos conseguem superar a barbaridade que sofrem enquanto crianças.

Contudo, este é um problema nacional, porque dentro das nossas famílias, temos problemas em abordar sobre o feitiço, é importante falarmos, debater, é cada vez necessário, o mais velho da família e do nosso kimbo, tem de ter voz e dar o verdadeiro tratamento ao assunto.

O outro grande problema, são os famosos locutores( sociólogos, psicólogos entre outros) que se firmam no exterior e depois fingem que Africa( angola) não existe, ignorando as suas tradições e cultura, e, passam a abordar assuntos de uma forma que, não ajuda em nada a maka do feitiço, aliás, várias pessoas entre as acusadas de feitiçaria, são netos e sobrinhos de soba, logo, é necessário debater sobre o assunto de forma aberta e com realismo da coisa, o governo Angolano precisa criar, bases e meios para ajudar na questão em causa, chega de termos os filhos desta Angola nas ruas e a comerem no lixo, só porque são acusados de feitiçaria, dentro da sua própria família que os deveriam proteger.

Sei que existe várias associações e lares que recebem os meninos(a) e que procuram dentro do possível, acautelar a situação. A título de exemplo, muito recentemente, estive com os zungueiros solidários de Angola, um grupo de jovens jornalistas, liderado pelo radialista Yury Reverendo, na província do Zaire, município de Mbanza Congo, onde vivemos de perto, o sofrimento daquelas crianças inocentes. Levamos para aquela parcela do território nacional, alimentos e roupas, e conversamos com crianças, cuja realidade da maior parte, já sabem ler, outra parte, já formou família, por acaso, foi uma experiência agradável e, gostaria de lá regressar.

Por fim, agradeço a si por ler este artigo e espero contribuições de todos Angolanos.

Aprenda enquanto estiver vivo, porque não vou viver para sempre…

By: Yussufe Tati Coordenador da TV Belas

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