MANUEL VIDIGAL ’13 TESES’ EM DEFESA DE NITO ALVES É MAIS UM PASSO “EM BUSCA DA VERDADE”

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O livro ‘MPLA – A Revolução Traída, 13 teses em Minha Defesa’, da editora Elivulu, consiste na defesa de Nito Alves perante o Comité Central do partido face às acusações de que era então alvo o dirigente e antigo ministro do Interior do Governo de Agostinho Neto, primeiro presidente do país após a conquista da independência.
Nito Alves, acusado de fracionismo, foi um dos angolanos assassinados na sequência do alegado golpe de Estado que se deu em 27 de Maio de 1977.
Em declarações à Lusa, o vice-presidente da Associação 27 de maio, Manuel Vidigal, explicou que este documento nunca foi reconhecido e estava, de certa forma proscrito, sendo um “tabu, escondido pelo MPLA”.

“Houve pessoas que foram mortas por terem tido conhecimento do documento ou terem-no em sua casa”, vincou o responsável, considerando que faz sentido dar agora à estampa as teses de Nito Alves, após o discurso reconciliador do Presidente angolano, João Lourenço, que pediu desculpas às vítimas e seus familiares e assumiu as responsabilidades do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), partido no poder em Angola desde a conquista da independência, há 47 anos.

“O Presidente afirmou que a história não se apaga e que era importante cada um de nós dar o seu contributo à procura da verdade. Este foi um documento premonitório do que aconteceu a 27 de Maio”, sublinhou Manuel Vidigal, a propósito da obra que será apresentada na sexta-feira em Lisboa.

O responsável indicou que a associação, juntamente com a associação Sobreviventes do 27 de Maio, tenciona fazer também o lançamento da obra póstuma em Luanda e levar os livros para Angola.

Questionado sobre as promessas de Joao Lourenço relativamente à entrega dos restos mortais das vítimas dos conflitos às famílias, acredita que serão cumpridas. Por outro lado, considerou importante apurar toda a verdade dos factos e responsabilizar os autores dos crimes

“O objetivo não é nenhuma ‘revanche’, mas é importante saber quem fez, quem cometeu os crimes”, disse.

Os sobreviventes do 27 de Maio lembram que conseguir as ’13 Teses em Minha Defesa’ de Nito Alves foi, “mais do que um propósito, uma obsessão”, tendo uma cópia do documento sido divulgada para já apenas no site da associação.

O documento é a resposta de Nito Alves ao conjunto de acusações que lhe dirigiram durante a Terceira Reunião Plenária do Comité Central do MPLA, que teve lugar em outubro de 1976 e, segundo os sobreviventes, contém todo um manancial de provas que “se tornaram incómodas para aqueles que, no Comité Central, o combateram e acabaram por assassinar”.

“Publicá-las (as 13 teses) é também para nós, Associação 27 de Maio e Sobreviventes do 27 de Maio, uma forma de homenagear o nacionalista e revolucionário angolano que foi Alves Bernardo Baptista, o ‘Nito Alves’, um mártir da revolução angolana”, salientam, a propósito da edição do livro.

Em 27 de Maio de 1977, uma alegada tentativa de golpe de Estado, numa operação que terá sido liderada por Nito Alves – então ex-ministro do Interior desde a independência (11 de novembro de 1975) até outubro de 1976 –, foi violentamente reprimida pelo regime de Agostinho Neto.

Seis dias antes, em 21 de maio, o MLPA expulsara Nito Alves do partido, o que levou o antigo ministro e vários apoiantes a invadirem a prisão de Luanda para libertar outros simpatizantes, assumindo paralelamente o controlo da estação da rádio nacional, um movimento que ficou conhecido como “fracionismo”.

As tropas leais a Agostinho Neto, com apoio de militares cubanos, acabaram por estabelecer a ordem e prenderam os revoltosos, seguindo-se, depois, o que ficou conhecido como “purga”, com a eliminação das fações, tendo sido mortas cerca de 30 mil pessoas, na maior parte sem qualquer ligação a Nito Alves, tal como afirma a Amnistia Internacional em vários relatórios sobre o assunto.

Este ano, João Lourenço pediu desculpas em nome do Estado angolano pelas execuções sumárias levadas a cabo após o alegado golpe de 27 de Maio de 1977, salientando que se trata de “um sincero arrependimento”.

“Não é hora de nos apontarmos o dedo procurando os culpados. Importa que cada um assuma as suas responsabilidades na parte que lhe cabe. É assim que, imbuídos deste espírito, viemos junto das vítimas dos conflitos e dos angolanos em geral pedir humildemente, em nome do Estado angolano, as nossas desculpas públicas pelo grande mal que foram as execuções sumárias naquela altura e naquelas circunstâncias”, disse o chefe do executivo angolano, que se dirigiu ao país numa comunicação transmitida pela Televisão Pública de Angola, na véspera da data, pela primeira vez assinalada com uma homenagem em memória das vítimas.

Em abril de 2019, o Presidente angolano ordenou a criação de uma comissão (a CIVICOP), para elaborar um plano geral de homenagem às vítimas dos conflitos políticos que ocorreram em Angola entre 11 de novembro de 1975 e 04 de abril de 2002 (fim da guerra civil).

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