Os meus pés, negros e rangelinos, sofreram na infância. Pisaram charcos e terrenos lamacentos. Sentiram o queimor do chão, aquecido pelo sol ardente daqueles tempos de meninice e tiveram “bitacanhas” – os bichinhos que se introduziam nos pés dos meninos mussequinos, traquinas e de pés descalços.
Os meus pés, negros, rangelinos e sofridos tornam-se alegres, quando jogassem à bola com os meus amigos e colegas de infância. Fintavam-nos com entusiasmo e marcavam muitos golos.
Os meu pés, negros e rangelinos, já pisaram muitos países do mundo. Também pisaram espaços de muitos eventos culturais. Portanto, eles têm cultura geral.
Os meus pés, negros e rangelinos, já tiveram contacto com a terra, chuva, mar, rio, relva, areias marítimas e fluviais, pedras e com a neve. Eles têm muita sensibilidade.
Os meu pés, negros e rangelinos, têm calos da longevidade, fazem pedicura de quando em vez e, a maior parte das vezes que são higienizados, usam cremes hidratantes e ficam lindos e contentes. Gosto de os ver contentes!
Os meus pés, negros e rangelinos, agitam-se imenso na hora do prazer. Gritam imenso! Grinta! Suam! Demonstram a sua vitalidade…
Os meus pés, negros e rangelinos, são meus heróis, por me ter salvado de um afogamento, na minha meninice.
Os meus pés, negros e rangelinos, são dignos na minha consideração e gratidão. Obrigado, meus pés negros e rangelinos!
José Carlos de Almeida
Pensador & Escritor