O estadista angolano, que intervinha na reunião do Conselho de Segurança da ONU sobre a situação na RCA, pediu justiça no tratamento da questão do levantamento do embargo.
Solicitou igualmente o apoio internacional ao Governo daquele país africano, no sentido de equipar as suas forças armadas e criar condições para assegurar a estabilidade interna, depois da retirada das forças de manutenção da paz da ONU.
João Lourenço também deu o ponto de situação do que tem sido feito, sob liderança de Angola, no esforço colectivo de procura da paz e segurança na RCA.
Fez notar que todos os Estados têm o direito inalienável de criar capacidades próprias de se defender das ameaças internas e externas, dotando as suas forças armadas de homens, armamento e equipamento à altura das suas necessidades, salvo se existirem fortes razões objectivas que levem a comunidade internacional, através do Conselho de Segurança, a eliminar esse direito.
Informou que seis dos 14 grupos signatários dos acordos de paz na RCA denunciaram o pacto, acrescentando que o embargo do Conselho de Segurança não se coaduna com a actual conjuntura e amordaça a capacidade de defesa e segurança do Estado centro-africano, cujas autoridades foram legitimadas nas últimas eleições gerais, reconhecidas internacionalmente.
Vincou que o embargo de armas impede a construção das verdadeiras forças armadas à altura dos desafios do país e da conturbada região, num contexto em que o terrorismo internacional transferiu o seu epicentro do Médio Oriente para a África.
João Lourenço considerou essencial a capacidade própria de defesa devido à situação agravada pela expulsão dos mercenários e combatentes estrangeiros da Líbia, sem que tivessem sido desarmados, acompanhados e repatriados, podendo exacerbar a proliferação do terrorismo e aumentar a ameaça à paz e à estabilidade na região do Sahel e na África Central e Austral.
“O facto de as forças armadas tchadianas terem evitado o avanço à capital Ndjamena prova a necessidade de os Estados terem capacidade própria para se defender”, referiu.
Sublinhou ser altura de se ajudar a RCA a formar as suas tropas e equipá-las com armamento, no sentido de começar a caminhar com as suas próprias pernas e garantir a própria defesa e segurança, quando as forças estrangeiras, como a missão da ONU, terminarem a sua missão.
“Consideramos importante as autoridades centro-africanas trabalharem no sentido de neutralizar as forças internas que apostam em deteriorar as boas relações com a ONU e com influentes membros do Conselho de Segurança com quem se deve trabalhar no espírito de parceria e respeito mútuo na defesa da paz e segurança dos países”, salientou.
Posição angolana
Na sua intervenção, João Lourenço afirmou que o plano estratégico da presidência angolana durante o mandato de dois anos na CIRGL tem como referência a estabilidade e o desenvolvimento da região dos Grandes lagos, e orienta-se pelos princípios da carta da ONU e da União Africana.
Reconheceu que o apoio internacional é cada vez mais importante para contribuir nos esforços tendentes à paz e à estabilidade na República Centro-Africana.
Falou das duas mini-cimeiras de Chefes de Estado sobre a RCA realizadas em Angola, com exortações aos grupos rebeldes a observar o cessar-fogo e a abandonar o cerco à capital Bangui, bem como abrir o corredor Douala-Bangui para facilitar a circulação de pessoas e bens, visando a paz e a reconciliação.