Moçambicanos defendem pesquisa de vacinas em grávidas

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Um artigo científico publicado no final de janeiro no portal The Lancet e divulgado pelo Centro de Investigação em Saúde da Manhiça (CISM), em Moçambique, diz que a necessidade é ainda maior nos países de médio e baixo rendimento.

Nestes países, as mulheres em idade reprodutiva estão mais representadas em grupos essenciais, “por exemplo, como prestadoras de cuidados de saúde, cuidadoras de crianças e força de trabalho”, refere-se no documento que junta pesquisadores da Manhiça, do Instituto para a Saúde Global em Barcelona (ISGlobal), da Universidade de Witwatersrand (África do Sul) e do Instituto para a Saúde Global de Yale e Escola de Medicina Baylor de Houston (EUA).

Ou seja, “a inclusão de mulheres grávidas de países de médio e baixo rendimento na pesquisa de vacinas para a covid-19 é relevante, não apenas para benefício individual, mas também para benefício geral da sociedade”.

Mas apesar deste destaque, o alerta ultrapassa fronteiras e é feito à escala global, porque “há provas de que a covid-19 ameaça a saúde materna e perinatal”.

“Mulheres grávidas, especialmente na segunda metade da gravidez, têm maior risco de complicações” se contraírem o novo coronavírus, lê-se no artigo.

Assim, a exclusão de mulheres grávidas da pesquisa inicial de vacinas resulta “numa oportunidade perdida”, concluem.

A situação não é única: por questões de segurança, “os produtores de vacinas excluem sistematicamente mulheres grávidas dos primeiros estudos clínicos”, só que “os dados sugerem um perfil de segurança aceitável para a maioria das vacinas contra a covid-19 em desenvolvimento”.

O artigo é assinado por Azucena Bardají, Esperança Sevene, Clare Cutland, Clara Menéndez, Saad B Omer, Teresa Aguado e Flor Muñoz.

O cenário pode estar para mudar e alinhar-se com o que defende a equipa de investigação que assina o artigo.

A farmacêutica Pfizer e o parceiro alemão BioNTech anunciaram na quinta-feira o início de estudos em nove países da sua vacina covid-19 em mulheres grávidas.

Os países escolhidos incluem Moçambique, EUA, Canadá, Argentina, Brasil, Chile, África do Sul, Espanha e Reino Unido.

A pesquisa vai envolver 4.000 mulheres grávidas saudáveis com 18 anos ou mais, sendo que algumas receberão a vacina de duas doses e outras injeções simuladas, com três semanas de intervalo e entre 24 e 34 semanas de gravidez.

As voluntárias serão acompanhadas durante sete a dez meses, dependendo se receberam vacina ou placebo (substância neutra, de controlo), para verificar a eficácia e segurança da vacina em mulheres grávidas.

Ao anunciar a iniciativa, William Gruber, chefe de pesquisa e desenvolvimento clínico de vacinas da Pfizer, disse também que “as mulheres grávidas têm um risco aumentado de complicações e de desenvolver covid-19 grave”.

O artigo publicado no The Lancet sugere ainda que seria útil compreender “o impacto da infeção em diferentes trimestres de gestação” para determinar o momento ideal de vacinação.

Globalmente, há mais de 213 milhões de gestações a cada ano, das quais cerca de 190 milhões (89%) ocorrem em locais com poucos recursos e onde “os riscos obstétricos e perinatais são maiores”, conclui-se no artigo.

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