Moléculas inflamatórias explicam confusão mental e ‘cérebro de Covid’

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Na edição de fevereiro da revista Cancer Cell, uma equipa de médicos do hospital Memorial Sloan Kettering (MSK), nos Estados Unidos, revela uma possível causa associada a esta manifestação da Covid-19, doença provocada pelo novo coronavírus SARSCoV-2: a presença de moléculas inflamatórias no líquido ao redor do cérebro e da medula espinhal, o chamado líquido cefalorraquidiano.

A descoberta é extremamente relevante visto que pode desvendar potenciais tratamentos contra a complicação, como medicamentos específicos, reporta um artigo publicado na revista Galileu.

Segundo Jessica Wilcox, investigadora chefe em neuro-oncologia do MSK e uma das principais autoras do estudo: “fomos inicialmente abordados pelos nossos colegas de medicina intensiva que observaram delírios graves em muitos pacientes hospitalizados com Covid-19″.

“Aquela reunião transformou-se numa tremenda colaboração entre neurologia, cuidados intensivos, microbiologia e neurorradiologia para aprender o que estava a acontecer e ver como poderíamos ajudar os nossos pacientes”, acrescenta.

encefalopatia, explica a revista Galileu, o nome técnico do problema, é igualmente um efeito secundários em doentes em tratamento de imunoterapia com células T de receptor de anticorpo quimérico (CAR) para combater cancros do sangue.

Ao ser administrada, a terapia com as CAR T faz com que células imunológicas libertem as moléculas citocinas, que auxiliam o corpo a combater a doença, tal como sucede nos casos severos de Covid-19.

No caso de indivíduos que recebem as CAR T, são utilizados esteroides contra o efeito neurológico, o que por sua vez poderá ser uma alternativa para os pacientes infetados com o novo coronavírus.

O estudo contou com a participação 18 pacientes internados no MSK com Covid-19, que estavam a sofrer de problemas neurológicos graves. Os indivíduos foram avaliados extensivamente, nomeadamente foram realizadas varreduras cerebrais através de ressonância magnética, tomografia computadorizada e monitorização de eletroencefalograma, de forma a tentar detetar a causa dos delírios. Todavia, ainda assim, nada explicava o fenómeno. Foi nesse momento que os investigadores contemplaram que a resposta poderia estar no líquido cefalorraquidiano.

“Descobrimos que esses pacientes apresentavam inflamação persistente e altos níveis de citocinas no líquido cefalorraquidiano, o que explicava os sintomas que apresentavam”, conta Jan Remsik, investigador e outro dos principais autores da pesquisa.

“Costumávamos pensar que o sistema nervoso era um órgão com privilégios imunológicos, o que significa que não tinha nenhum tipo de relação com o sistema imunológico”, afirma Remsik.

Concluindo: “mas quanto mais olhamos, mais encontramos conexões entre os dois”.

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